Outros "mares" por onde navego...

sábado, 28 de agosto de 2010

Despedida


vai,
meu coração tem uma linha divisando estradas
meu pulsar tem curvas e abismos
pisam meus pés onde flechas apontam horizontes futuros
tuas místicas canções abrigo em meu peito
e em saudades me envolvo
até que me despertem sonhos tortos
asas onde jamais pousarei...


vai,
 já sei que não me abraças em tua poesia
há rochedos entre nós_ estáticos e emudecidos_
vigiam gerações e não estendem suas mãos até nossos destinos.


...


ontem nascia uma Rosa, enquanto outra morria sob o império do Sol!
tudo se erguia em prenúncios de despedida...


Betha Mendes


( Imagem do Google )

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O verso e o pássaro


plantei meu verso vazio
nas linhas tortas das mãos
por caminhos retos, teimosos
meu verso virou canção

voou meu verso para o céu
para um céu de passarinho
que vivendo em brancas nuvens
cantou, cantou, deu-lhe um ninho

"devolve, oh pássaro teimoso,
o meu verso inacabado
ainda não disse tudo
não mandei o meu recado!"

nem me deu asas o pássaro
cantarolou sem parar
e voando letra em letra
meu verso morou no ar

e o meu plantado verso
já nascido em outra voz
multiplicou-se rebelde
lançou-se ao mundo, veloz ...

( Betha Mendes )

Imagem do Google

domingo, 15 de agosto de 2010

Outono


                     Imagem do Google
guardo-te
em frágeis pedaços de mim

efêmera como o vento
colho o outono em suas folhas

e , assim,
escrevo-te...

(Betha Mendes)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Mãos



Vê minhas mãos estendidas
Um coração tocando o mundo
São montanhas na imensidão do meu


Vê que minhas mãos têm cheiros
São perfumes de rosas e frutos
Que, juntos, plantamos em terra fértil
Frágil regaço de nós , a desbravar feridas


Vê minhas mãos refletidas
Paisagem e espelho por onde passamos
Desfilamos nossos sonhos
Que agora dormem
Exaustos,
Sem corpo
Sem pena
Sem papel


Minhas mãos estendidas te guardam
Compartilham melodias
Ressuscitam liberdades


(Betha Mendes)


Imagem do Google

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Presença

tua presença me foge das explicações
dos absurdos e das lógicas
dos best-sellers dos deuses humanos
do complexo ato de estar na Terra
das palavras esdrúxulas e feias

sinto-te aqui bem perto de mim
lá dentro onde pulsam as minhas emoções:
vejo-te num momento em que canta o artista
os fragmentos cotidianos e "imperceptíveis"

tu és tudo
o meu verso pobremente lapidado
enriquecido pela luz de tua misericórdia
acordado em teu silêncio suave cantado em meus ouvidos
és tudo e és nada
tudo que não se explica
nada... quando o vazio me cega

és este vento a sussurrar
as borboletas que se libertam
os campos que cultivo e as sementes espalhadas
doce esperança na madrugada a dormir

tu és um dia valente em meio à guerra
a olhares dispersos e perdidos na multidão solitária
viajante incansável por vias e vidas no ocaso
a mão que balança, o olhar que traduz
este Ser... sereno, suave
misto e místico... Único!

(Betha Mendes)

Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos
Volume 66, página 63
http://www.camarabrasileira.com/