Outros "mares" por onde navego...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Advento

Há um natal dentro de mim
Onde meninos em manjedouras
Choram com olhares inocentes
A dor pesada do destino que lhes fez nascer
O meu natal pede um novo tempo
Onde bandeiras ressurjam e ensinem
Novas gerações a sonhar por todos
A esperança estática de velhas fotografias

Quero um natal do passado
Com visitas ancestrais no presépio de minha alma
Com incensos de simplicidade
E brilhos da lua esquecida em sua solidão
Não quero presentes de loja
Também não quero dá-los
Quero apenas a Luz que visita o âmago
E se estende por caminhos mal traçados
Desenhando uma recomposição

Desejo encontrar o meu natal
Não em calendários marcados na parede
Não em tempos pré-estabelecidos
Por homens vazios
Desejo meu natal em mim mesma
Na terra fértil que me chove todo dia
Com novas vidas sementeadas em mim

(Betha Mendes)


Foto de Sebastião Salgado, retirada do Google


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Abandono


e porque tu foste embora
a primavera chegou
soltou faíscas de teu perfume
abandonou-me nesta manhã
em que procuro tua voz
sem espinhos...



Betha Mendes


(Imagem Google)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Azul

Há momentos em que olho pro céu
Olho nuvens
Faço desenhos
Cheiro jardins
Vejo anjos que não parecem de verdade
Então roubo suas asas
Invejo suas vidas em calendários na parede
Pendurados
Onde pendurados estão os meus sonhos
E a minha vida sempre "azul"
...


Tão difícil ser gente!




Betha Mendes


(Imagem do Google) 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Aos poetas

                                                  


hoje me guarda o silêncio sem solidão
estou contemplando montanhas através de minhas janelas
e de minhas retinas buscando horizontes.
estão tranquilas e me abrigam as velhas árvores
que me viram nascer.
os telhados brilham sob a luz emprestada do Sol
mas nada sabem das vidas que pulsam abaixo de si.
eu poderia lhes falar de minhas lágrimas
chovendo-me e enclausurando sentimentos secretos,
do quanto elas me visitaram para expandir a dor no meu peito
e as lembranças da minha nudez tão vazia!
não, Poetas,
hoje eu tenho alguma Paz e sorrisos pra me enfeitar
não vejo nenhuma rosa da minha janela
mas um pássaro que canta
já me ensinou todo o fascínio da vida!


(Betha Mendes)


Selo "Presença Literária", feito pela minha amiga
e poetisa Graça Graúna.

domingo, 7 de novembro de 2010

Nascer

 
Um dia fui Rosa
Surgi no coração de um rumo distante
Corpo translúcido
Mutante nudez e raios de primavera!


Uma noite fui Sol
Luz efêmera de encantadora passagem
Monumental dança
Mútuas essências!


Visão de coisas naturais
Ontem fui corpo teu
Fiz jorrar o teu sangue:
Dor e prazer!


Trouxe na minha carne sem pudor
O teu suor hoje guardado
Na minha pérola de sal
_ Diamante vertendo na minha face _
Entreaberta com a a luz do que virá...


Betha Mendes


(Imagem do Google)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Oferta

          Pétalas


Oferto-lhes meus orvalhos de sal


Mas amanhã...


Outra chuva me nascerá raiz!  

(Betha Mendes)     


Imagem do Google                        

sábado, 30 de outubro de 2010

Caminhante

O caminhante em sua estrada
passo cansado
entre um e outro
as lembranças
se recolhem nos sulcos das mãos
e se repartem
em becos onde cenários adormecidos
não contam mais as mesmas histórias
mas sorriem de uma breve eternidade.

O caminhante em sua beleza
suas saudades escondidas
em copas abertas
nos anseios de novas folhas
que, soltas de velhas árvores,
se vão...

O caminhante é seu chão
seu sorriso
seu livro!

(Betha Mendes)

Imagem do Google

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Despedidas

luto morrendo a tarde
sopro dores
meus olhos chovem
minhas palavras dançam
mas ainda contemplo os campos
vazios


(Betha Mendes)


Foto minha (Gaibu-PE)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Caminho

vou pelo caminho das pedras
meus pés... pássaros descalços...
conduzem-me
por onde norteia o meu olhar
sem destino... clandestino...


meus passos são voos,
então sigo...
marco com sangue
o doce caminho das pedras
por onde caio...
por onde levanto...
e, de novo,
ando!




(Betha Mendes)


Imagem do Google

sábado, 9 de outubro de 2010

Marcas

sinto vontade
e escrevo
meu coração
ponho na mão
e as linhas
em minhas marcas 
suadas
invisíveis
transformam-se...
e o vazio do branco
torna-se sangue
e percorre as veias vazias
da página
em que escondo
e desejo 
a minha vida
(Betha Mendes)


Imgem do Google

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mulher

Sou mulher
em cada pássaro que aconchego
em meu útero... múltiplo...
sou ninho e canto
sonhos femininos... pequeninos...
acalanto em melodias de guerra e paz:


A utopia noturna de um olhar distante
as mãos suaves num corpo em apuros
as naturezas advindas de seres ainda por vir!


Simplesmente mulher
luz para os teus olhos ou dor para os teus passos
num ritmo só... sou o Sol
a cor e o amor
o brilho
o filho
a fuga
a angústia e a solidão
a canção incansável
no suor das fêmeas a molhar o universo.


(Betha Mendes)


Imagem Google

sábado, 25 de setembro de 2010

luz



que fio de luz tece aquela estrada vazia?

a estrada sou eu...

tu és a luz!


( Betha Mendes )

Imagem do Google

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Zedantas


Imagens retiradas do Google

Quem não conhece as belas composições de Zedantas através de vozes como Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Marisa Monte, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Fagner e tantos outros? 

"Seu dotô, os nordestino/ tem muita gratidão/ pelo auxílio dos sulistas/ nesta seca do sertão..."

"Já faz três noites que pro norte relampeia/ e a asa branca ouvindo o ronco do trovão..."

"Mas nessa festa seu dotô perdi a carma/ tive que pegar nas arma pois num gosto de apanhar..."

"Vai cartinha fechada/ não deixa ninguém te abrir/ naquela casa caiada/ onde mora a letra I..."

"Ai que saudades que eu sinto/ das noites de São João..."

"Lá no meu sertão/ pro caboclo ler/ tem que aprender outro a b c..."

"Ela só quer/ só pensa em namorar..."

"A todo mundo eu dou psiu/ perguntando por meu bem..."

Em Carnaíba, Sertão do Pajeú, nasceu este poeta em 1921. Cantou o protesto, as esperanças que ressurgem com o fim da seca, a boemia em noites de festa, os amores, as paixões e as saudades; nos leva ao passado e nos faz vivê-lo; é o poeta que soube escutar as histórias de seu povo e retratá-las no imaginário de seus versos. Estamos vivendo, de 20 a 25 de setembro, em Carnaíba , a XVII Festa do Poeta Zedantas. Uma semana em que a cidade vira uma oficina cultural de poesia e música, com a presença de artistas regionais e de outras partes do Brasil. O poeta é homenageado e conhecido pelas novas gerações, que , nas escolas, estudam a sua história, suas músicas e discutem suas temáticas; grupos de dança se exibem e as noites são agraciadas com forronatas e apresentação de grandes artistas.
O artista morreu cedo, aos 41 anos. No seu coração, abrigava a veia poética e talentosa com que expressava toda beleza das paisagens de seu universo sertanejo e cultural.
























































terça-feira, 14 de setembro de 2010

Aprender





quando choram as nuvens dos meus olhos
estrelas caem em mim
invadem o meu corpo nu
me acordam para a Luz de todo dia...

são canções ouvidas no silêncio de muitos dias
em noites inocentes...

são árvores distantemente plantadas
nas mãos do Homem que já não me visita...
são palavras, que, ditas e malditas,
descansam em meu lado obscuro...

são os gritos envoltos em risos e guerras
numa sonhada, esperada Liberdade...

estrelas me invadem
não choram mais as nuvens dos meus olhos
sou dona de mim
tenho tão somente a Incerteza
à espera do que está por vir

(Betha Mendes)

Imagem do Google

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sol


o Sol chegou
levou do meu corpo
as últimas gotas de orvalho


talvez uma alegria
chorará a ruptura dos silêncios
e tua presença marcará os meus passos


não será mais a minha lágrima o teu olhar...


quebrados... todos os espelhos
guardarão comigo senão a tua alma
a aquecer e a inundar o meu corpo vazio
a tecer nos fios dos momentos o que ainda nos resta!


(Betha Mendes)


Imagem do Google

sábado, 28 de agosto de 2010

Despedida


vai,
meu coração tem uma linha divisando estradas
meu pulsar tem curvas e abismos
pisam meus pés onde flechas apontam horizontes futuros
tuas místicas canções abrigo em meu peito
e em saudades me envolvo
até que me despertem sonhos tortos
asas onde jamais pousarei...


vai,
 já sei que não me abraças em tua poesia
há rochedos entre nós_ estáticos e emudecidos_
vigiam gerações e não estendem suas mãos até nossos destinos.


...


ontem nascia uma Rosa, enquanto outra morria sob o império do Sol!
tudo se erguia em prenúncios de despedida...


Betha Mendes


( Imagem do Google )

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O verso e o pássaro


plantei meu verso vazio
nas linhas tortas das mãos
por caminhos retos, teimosos
meu verso virou canção

voou meu verso para o céu
para um céu de passarinho
que vivendo em brancas nuvens
cantou, cantou, deu-lhe um ninho

"devolve, oh pássaro teimoso,
o meu verso inacabado
ainda não disse tudo
não mandei o meu recado!"

nem me deu asas o pássaro
cantarolou sem parar
e voando letra em letra
meu verso morou no ar

e o meu plantado verso
já nascido em outra voz
multiplicou-se rebelde
lançou-se ao mundo, veloz ...

( Betha Mendes )

Imagem do Google

domingo, 15 de agosto de 2010

Outono


                     Imagem do Google
guardo-te
em frágeis pedaços de mim

efêmera como o vento
colho o outono em suas folhas

e , assim,
escrevo-te...

(Betha Mendes)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Mãos



Vê minhas mãos estendidas
Um coração tocando o mundo
São montanhas na imensidão do meu


Vê que minhas mãos têm cheiros
São perfumes de rosas e frutos
Que, juntos, plantamos em terra fértil
Frágil regaço de nós , a desbravar feridas


Vê minhas mãos refletidas
Paisagem e espelho por onde passamos
Desfilamos nossos sonhos
Que agora dormem
Exaustos,
Sem corpo
Sem pena
Sem papel


Minhas mãos estendidas te guardam
Compartilham melodias
Ressuscitam liberdades


(Betha Mendes)


Imagem do Google

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Presença

tua presença me foge das explicações
dos absurdos e das lógicas
dos best-sellers dos deuses humanos
do complexo ato de estar na Terra
das palavras esdrúxulas e feias

sinto-te aqui bem perto de mim
lá dentro onde pulsam as minhas emoções:
vejo-te num momento em que canta o artista
os fragmentos cotidianos e "imperceptíveis"

tu és tudo
o meu verso pobremente lapidado
enriquecido pela luz de tua misericórdia
acordado em teu silêncio suave cantado em meus ouvidos
és tudo e és nada
tudo que não se explica
nada... quando o vazio me cega

és este vento a sussurrar
as borboletas que se libertam
os campos que cultivo e as sementes espalhadas
doce esperança na madrugada a dormir

tu és um dia valente em meio à guerra
a olhares dispersos e perdidos na multidão solitária
viajante incansável por vias e vidas no ocaso
a mão que balança, o olhar que traduz
este Ser... sereno, suave
misto e místico... Único!

(Betha Mendes)

Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos
Volume 66, página 63
http://www.camarabrasileira.com/

terça-feira, 6 de julho de 2010

Semente de Sedução

Tu dormes sozinha
em teu leito de princesa.
Desperta,
jorras em espaços vazios
tua semente de sedução;
assim nasces,
toda vez que toco tuas asas
e persigo os sentimentos que há em ti.
Vens linda, ligeira,
traiçoeira e bailarina
em meus vácuos dementes
a preencher os sentidos da vida,
a socorrer-me em tua desenfreada liberdade;
assim também vais...
sem me explicar o abandono,
levas de mim a pena e o papel
e repousas sobre eles novamente
até nasceres nos corações de outros poetas...

(Betha Mendes)
Poema também publicado no Overmundo

Imagem do Google

sábado, 26 de junho de 2010

Oceano



O oceano que contemplo é largo
Os mares que lhe transbordam dizem tudo de mim
Que sou pequena e feia
E não consigo passar por nenhuma janela...
Que hoje carrego apenas uma flor despedaçada
Ensinando-me sabiamente a lição de morrer!
Contemplo-te, oh oceano de mim
Vejo-te sem penetrar-te e desembrulho palavras
De um universo abstrato
Que me oferta saudades e me traduz loucuras
Toda minha imensidão me machuca
Me devora, pisa-me nos meus pequenos pedaços
E quando consigo ser eu
Abandono-me
Guardo-me naquela que todos conhecem
Então retorno...
Decido não ser feliz
E dizer que este imenso mundo não é meu
Ainda que tanto lhe devore
Ainda que tanto lhe admire
Em seus azuis espalhando outros oceanos...

( Betha Mendes )

Imagem do Google

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Alma do Poeta






A alma do poeta...

Penso num córrego profundo

Numa dor desmedida

Numa tristeza, numa solidão

 
Imagino a alegria do poeta...

Tão grande

Tão sem estrada por onde trilhar

A sua liberdade sem limites


A alma do poeta é o mundo

O seu amor por outra trilha

O seu verso acorrentado

Liberto depois,

Em pecado

Em perdão


É tomar vinho sem musas

É colher flores do nada

Sementear dor e prazer

Derramar nuvens no papel


Pensar que disse tudo

Pensar que disse nada


Chorar...

Orvalhar..


..


..


Só... rir...

Velejar...


Continuar...






(Betha Mendes, 10.05.08)



Imagem do Google








domingo, 6 de junho de 2010

Sem rosto

nua
a palavra te encanta
no papel despedaçada
te faz rir
te faz chorar
implora a preencher
os vazios
em vazios virtuais
nua
completa em sua nudez
não te mostra o rosto
do outro lado.
mas, forte,
teima,
seduz,
te faz amor,
te chama de flor,
e tudo se veste... de novas palavras!

(Betha Mendes)

Imagem do Google

terça-feira, 1 de junho de 2010

Nascente


Liga não...
Amanhã ele nasce.
Prepara a roupa mais linda
Varre o vazio do verso

E vem,
Repousa a tua mão: põe teu poema aqui
                                     poente e sol
                                    só por entre linhas e os nós
                                   e o pó.......................................

                                  De nós dois.

(Betha Mendes)

Imagem do Google

terça-feira, 25 de maio de 2010

Imagem



sou assim
sou letra e sílaba
                            canção e fonema
sou palavra e frase
                            destino e interpretação
sou ideia e texto
                            o verbo e o agora
sou o todo e o contexto
                            a situação
sou mudo também
                            mudo um olhar
                            na imagem-miragem
na tela viva visiva da comunicação.

sou criança, sou jovem e velho
                           sempre
                           caderno na mão.
não moro na "rua das rimas"
                           a música, porém,
                           me fascina
em tuas figuras, poetas,                                                                                  
                          nascem todas as ideias
                          palavras, palavras, palavras
                          a ala que lavra, lavra,
                          mas {presa}
                          não atinge a imensidão!
sou liberdade
                          adivinho, autor, as tuas
                          várias, más ou boas
                          intenções.
sou livro
                          a página é minha parte
                          nela adormeço
                          antecipo o sonho e o juízo final
                          escrevendo, junto com o criador,
                          outro desfecho, outra solidão
                          esperando o prazer de amanhã.

sou imagem
                          olho na tela o portinari
                          de infância, cafés, escravidão
                          vejo no quadro
                          as várias
                          as sílabas que, juntas,
                          são tarsílabas: opressão-operários
                                                     reza-religião
                                                     idílio-identidade
                                                     inspiração
sou papel em branco, colorido, liso
sou lápis... desejando a mão.
(Betha Mendes)

"Menina escrevendo", Henriette Browne
Imagem retirada do Google

domingo, 23 de maio de 2010

O desenho das nuvens
























no céu...
a neve da nuvem desenha
pedaços de vida passantes
um sonho sobre um cavalo
um voo em vão que vagueia
luas tortas
meninas alvas
vias e vilas vazias

um fundo azul
com desvelo de Vênus
ovula segredos
revela mistérios e vela por mim

seres andantes
sem olhos,
veem a travessia
de dias
nascendo poesia!
(Betha Mendes)

Imagem do Google

domingo, 16 de maio de 2010

Esconderijo



Daquela manhã guarda as minhas mãos vazias
Em suas ânsias e esperas a aprisionar lembranças
Num céu azul, mas triste prevendo a dor do indizível
Somente naquela hora!
Guarda minha boca a gritar teu nome,
Meu corpo a dizer o teu em contornos escondidos.
O que eu não posso e sufoco, guarda...
Guarda um Eu que não existe e em silêncio é tortura,
As pedras onde pisei, o céu onde fui pássaro,
O chão que me acolheu sem nuvens pra me afagar...
As linhas tortas da minha cerceada imaginação
Caminhando ousada por onde pisam teus passos...

Guarda tudo que te disse, tudo o que fui
Porque só em ti me escondi dos que me condenam
Só em ti meu corpo falou tanto quanto o coração
Só em ti fui alma
Sobretudo!

( Betha Mendes )

Imagem do Google

domingo, 2 de maio de 2010

Beleza de Cristal

Tua chegada
amanhece novas raízes
novos frutos brotam
do meu sertanejo coração.
Teu anúncio
com rara beleza de cristal
floresce fartos amanhãs
ainda que breves
porque o Sol não dormirá para sempre.
E as lágrimas do homem
com fome
com dor
com espera
são agora as grossas lágrimas
que se derramam, alegres sobre a Terra fecunda...
Chuvas de águas
Chuvas de vida
Chuvas de rios e risos
em desertos corações sertanejos
águas... se fazendo Mar... em Março...
trazidas pelas mãos de São José
até os desertos e matas
até os espinhos e flores
até o pó da terra dos incertos corações...
corações sertanejos!

( Betha Mendes, 19 de março, 2008 )

Imagem do Google

terça-feira, 27 de abril de 2010

FlorEssências

     Mulheres-de-maio
         são flores:
    dormem sementes
    e um dia brotam
silenciosas em seus perfumes,
  múltiplas em suas pétalas,
     que frágeis
morrem a cada sol
do solo-Homem.

Mas crescem! Levantam-se!
  e em sua FlorEssência
    são corpos florídeos
nadando em águas azuis,
    são rosas eróticas
            vermelhas,
             brancas e,
             ainda rosas,
são caleidoscópicas.

       Orquídeas escondidas
virgens exóticas abertas ao sêmen
       e ao pólen...
  que no poema se espalha
                vingando
                correndo...
escorrendo-se em margaridas
                em marias...

( Betha Mendes )

Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 63, p. 25.
Câmara Brasileira de Jovens Escritores
http://www.camarabrasileira.com/

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Impossível

impossível ignorar esta Chuva
não perceber o seu cair lento e incansável
disfarçá-la em gotas de cristal
sonhá-la em espirais de vento que nunca passam

impossível não esperar esta Flor
não vê-la chorando sob a terra fecunda
num percurso que apressa e rompe fendas
porque o tempo já se apossou demais

impossível a fantasia dos meus olhos
se na minha face brilham todos os mistérios:
o teor da minha alma
meus segredos mutilados... exilados...
os últimos fragmentos nas últimas horas do Sol

( Betha Mendes )

Imagem do Google

domingo, 18 de abril de 2010

um novo rio

.

.

fazer poesia é vivê-la também
na alma de quem chora
no coração que sorri
é apreciar todo dia o rio em seu percurso
perdê-lo de vista
e novamente amanhecer com uma nova palavra
que pode ser o mesmo rio

visto com um novo olhar...

( Betha Mendes )

Imagem do Google

sábado, 10 de abril de 2010

Leitura, memória e poesia

Eu, no livro-útero da minha mãe, daquela que um destino nordestino me trazia, já lia no aconchego do seu corpo as primeiras lições da vida sem cartilhas.
Li com o barulho das águas e com a direção dos ventos; com a infância rasgada em calçadas e em tudo que rimava com liberdade; com o sofrimento dos que se retiram e sonham em voltar e, sobretudo, com a esperança de ver mudar o mundo como muda cada letra na construção de uma nova palavra.
Percebi com as vozes solidárias que sempre me convidavam: "Vem, abre o livro, solta a pipa e a imaginação. Vê os continentes em cada página, vê a própria alma disfarçada num personagem qualquer." E assim, a vida se abria num papel em branco.
Ah... me leva pra Pasárgada num sonho de Cecília embalado pelos ventos e conduzido pela leitura mostrando a infinda diversidade que é o Brasil... o mundo. Lá, estão os poetas, que nunca morrem.
O cotidiano revelado nas cores, nas caras e nas máscaras da minha adolescência, os sonhos e o tempo voavam, mas eu tentava conviver, num eterno "happy end", as ideias loucas com a solidariedade e a luta nordestinada a se retirar. Um cotidiano em que Chico carioca não era melhor que o nordestino Cabral. Em que Gil e Caetano, em ondas criativas de melodia, ultrapassavam a amada terra Bahia. Em que talentos brotavam e se confundiam nos intertextos dos assuntos que, renovados, se repetiam.
Este Brasil me ensinou as letras com professores de todo dia: os mestres com salários mal pagos, os pais e a roda de amigos, a rua, a igreja, as notícias de boca em boca, as mentiras e as verdades nas telas e nos jornais; a gíria da moda, a etiqueta, o falar discriminado, o erro, a imitação. Todos os alfabetos que se juntavam e me faziam sorrir num conto de fadas. Todas as imagens de crianças mortas, a guerra e a procura da paz. Todas as infâncias risonhas, com lápis, papel e ideia. Todas as interpretações válidas que se interagem e fazem do mundo leitor um cidadão.
Tudo e até com a decepção de não ser como Cecília e Cora, Sabino, Quintana, Drummond...
Soletrei com tudo, até com a coragem de retirar do baú da minha timidez um poema guardado e mostrá-lo, numa inocência adulta, ridícula, talvez!
Quem me ensinou a ler foi você quando me ofertou livros, dizendo-me verdades e mentiras numa tela falsa; quando me levou a passear e a contar-me a história dos homens; quando aluno, foi meu professor, convidando-me a escolher e a juntar palavras, ideias e imaginação.           

( Betha Mendes )

"Moça com livro" , tela de José Ferraz de Almeida Jr.
Imagem do Google.